quinta-feira, 13 de novembro de 2014

PAPA FRANCISCO E SEU COMPROMISSO COM OS POBRES E OS MOVIMENTOS SOCIAIS

Discurso do Papa Francisco, em 27 de outubro, na recepção aos participantes do Encontro Mundial de Movimentos Populares, no Vaticano:


‘Obrigado por terem aceitado este convite para debater tantos graves problemas sociais que afligem o mundo hoje (…). Os pobres não só padecem a injustiça, mas também lutam contra ela! Não se contentam com promessas ilusórias, desculpas ou pretextos. Também não estão esperando de braços cruzados a ajuda de ONGs, planos assistenciais ou soluções que nunca chegam ou, se chegam, chegam de maneira que vão em uma direção ou de anestesiar ou de domesticar’

‘( solidariedade) é pensar e agir em termos de comunidade, de prioridade de vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. É enfrentar os destrutivos efeitos do Império do dinheiro: os deslocamentos forçados, as migrações dolorosas, o tráfico de pessoas, a droga, a guerra, a violência e todas essas realidades que muitos de vocês sofrem e que todos somos chamados a transformar. A solidariedade, entendida em seu sentido mais profundo, é um modo de fazer história, e é isso que os movimentos populares fazem’.


‘Queremos que se ouça a sua voz, que, em geral, se escuta pouco. Talvez porque incomoda, talvez porque o seu grito incomoda, talvez porque se tem medo da mudança que vocês reivindicam, mas, sem a sua presença, sem ir realmente às periferias, as boas propostas e projetos que frequentemente ouvimos nas conferências internacionais ficam no reino da ideia’


‘Não é possível abordar o escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção que unicamente tranquilizem e convertam os pobres em seres domesticados e inofensivos.


‘Este encontro nosso responde a um anseio muito concreto, algo que qualquer pai, qualquer mãe quer para os seus filhos; um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos com tristeza cada vez mais longe da maioria: terra, teto e trabalho. É estranho, mas, se eu falo disso para alguns, significa que o papa é comunista’.


‘Terra, teto e trabalho – isso pelo qual vocês lutam – são direitos sagrados. Reivindicar isso não é nada raro, é a doutrina social da Igreja. Vou me deter um pouco sobre cada um deles, porque vocês os escolheram como tema para este encontro.


‘‘Quando a especulação financeira condiciona o preço dos alimentos, tratando-os como qualquer mercadoria, milhões de pessoas sofrem e morrem de fome. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Isso é um verdadeiro escândalo (…) deixem-me dizer-lhes que, em certos países, e aqui cito o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, “a reforma agrária é, além de uma necessidade política, uma obrigação moral’


‘Eu disse e repito: uma casa para cada família. Mas, além disso, um teto, para que seja um lar, tem uma dimensão comunitária: e é o bairro… e é precisamente no bairro onde se começa a construir essa grande família da humanidade, a partir do mais imediato, a partir da convivência com os vizinhos (…) ali, o espaço público não é um mero lugar de trânsito, mas uma extensão do próprio lar, um lugar para gerar vínculos com os vizinhos’.


‘O desemprego juvenil, a informalidade e a falta de direitos trabalhistas não são inevitáveis, são o resultado de uma prévia opção social, de um sistema econômico que coloca os lucros acima do homem, que considera o ser humano em si mesmo como um bem de consumo, que pode ser usado e depois jogado fora. Isso acontece quando, no centro de um sistema econômico, está o deus dinheiro e não o homem, a pessoa humana’


‘Descartam-se os idosos, porque, bom, não servem, não produzem. Nem crianças nem idosos produzem. Estamos assistindo a um terceiro descarte muito doloroso, o descarte dos jovens. Milhões de jovens (…) aqui na Itália, passou um pouquinho dos 40% de jovens desempregados. Sabem o que significa 40% de jovens? Toda uma geração, anular toda uma geração para manter o equilíbrio. Em outro país da Europa, está passando os 50% …São dados claros do descarte. Descarte, descarte (…) para poder manter e reequilibrar um sistema em cujo centro está o deus dinheiro, e não a pessoa humana’


‘Um sistema econômico centrado no deus dinheiro também precisa saquear a natureza, saquear a natureza, para sustentar o ritmo frenético de consumo que lhe é inerente’.


‘Alguns de vocês expressaram: esse sistema não se aguenta mais. Temos que mudá-lo, temos que voltar a levar a dignidade humana para o centro, e que, sobre esse pilar, se construam as estruturas sociais alternativas de que precisamos. É preciso fazer isso com coragem, mas também com inteligência. Com tenacidade, mas sem fanatismo (…) Os cristãos têm algo muito lindo, um guia de ação, um programa, poderíamos dizer, revolucionário. Recomendo-lhes vivamente que o leiam, que leiam as Bem-aventuranças que estão no capítulo 5 de São Mateus e 6 de São Lucas (cfr. Mt 5, 3; e Lc 6, 20) e que leiam a passagem de Mateus 25’


‘A perspectiva de um mundo da paz e da justiça duradouras nos exige superar o assistencialismo paternalista, nos exige criar novas formas de participação que inclua os movimentos populares e anime as estruturas de governo locais, nacionais e internacionais com essa torrente de energia moral que surge da incorporação dos excluídos na construção do destino comum. Digamos juntos com o coração: nenhuma família sem moradia, nenhum agricultor sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá’.

sábado, 1 de novembro de 2014

RESSUSCITAR EM VIDA !

Liturgia Finados.

Queridos Irmãos !
A palavra do Senhor nos coloca a frente de dois paradigmas centrais. O primeiro se refere em nossa crença no Cristo Jesus. Jesus vivo, dentre os mortos, em seu sacrífico junto ao Pai para nos libertar, para nos resgatar. O segundo paradigma se coloca em nossa condição humana e que, em nosso Senhor, somos chamados a ressuscitar em vida.

A nossa crença no Cristo Vivo ela se refaz, a cada dia, pela nossa capacidade de amar o outro e fazer crer em sua transformação. O mundo nos propõe diante à violência, frente às desonestidades, às traições e aos pecados fazer crer que as pessoas não podem ser transformadas e não podem se converter ao bem e ao que é correto e determinado por uma ética cristã.   Este pensamento é uma negação de que o Senhor fez-se milagre. Negamos Jesus por não acreditar na possibilidade do homem novo, no perdão e no arrependimento e na transformação. Este pensamento que condena o outro a uma única essência no mundo é uma forma de desacreditar, de retirar a importância do sacrifício do Senhor Deus para conosco, de seu compromisso em nosso resgate. É como se anulássemos a morte de Cristo e nós mesmos o reconduzíssemos ao calvário. Assim, todas as vezes que professamos julgamentos comuns de que as pessoas não prestam, de que as pessoas precisam ser condenadas à morte, é como se nós mesmos conduzíssemos o sacrífico de Jesus ao vazio, e neste caso o sepultássemos novamente. Em verdade, a cada vez que negamos ao outro a possibilidade do perdão, da conversão, do arrependimento e de sua transformação como homem novo, é como se negássemos o sacrifício de Cristo claramente expresso em suas palavras neste evangelho: Todos os que o Pai me confia virão a mim, e quando vierem, não os afastarei

A palavra de Jesus se remete a todos, o que significa qualquer um que o busque e que o busque para a vida terá o seu perdão e renascerá nele.  Por isso Cristo nos conforta com a morte de nossos entes queridos, porque em nosso amor acreditamos e oramos para que eles o tenham buscado e que agora vivam ao seu lado na paz eterna.


O segundo paradigma se refere ao nosso comprometimento com a vida. Significa dizer que devemos,  a todos os momentos,  buscarmos nossa ressurreição. Muitos de nós esperamos e damos conta do último dia como se fosse uma dimensão apocalíptica do mundo, como se fosse o último dia de todos, ou o último dia de nossa vida física na terra.  Mas não o é. O último dia é o chamado de Deus, um chamado que ele o faz hodiernamente para que este dia, para que agora, para que hoje, seja sua aurora de luz, seja o seu dia de arrependimento, seja o seu dia de salvação, de ressurreição. 
Deus espera que você ressuscite em vida para que não padeça em morte durante sua vida. Jesus fala de seu receio de não perder uma só pessoa que lhe foi confiada pelo Pai, para que ele possa ressuscitá-lo no último dia. Mas, como Jesus poderá ressuscitá-lo se você não o reconhece e se você não se dirige a ele ? Pois é isso que ele professa: “quando vierem”.  

Assim, o Cristo nos adverte para que sejamos vivos em vida e possamos trazê-lo em nosso coração a cada dia, como se nova luz nascesse em nós e novo espírito refizesse nosso coração. Essa nova luz e esse novo espírito é o amor do Senhor, é ele que nos salva, ele que nos redime e ele que nos faz vivos em vida. Trata-se de uma transformação... Morrer para o mundo, nascer para o Cristo esta é a ressurreição e ela deve se fazer a cada dia, pelo amor e pela busca de nossa transformação e de todos com os quais convivemos.  O chamado do Senhor Jesus une os dois paradigmas: acreditar na transformação do outro é fazê-lo ressuscitar em vida, isso significa que o Senhor Deus habita em nosso coração e em vida estamos ressuscitados e em nós ele vive. O último dia é hoje, o agora, o primeiro de muitos dias de nossa vida em Cristo Jesus. 

sábado, 25 de outubro de 2014

NINGUÉM MANDA EM MIM !!!
30ª Semana do Tempo Comum

Irmãos em Cristo Jesus !
Neste domingo o Senhor Deus nos chama a refletir sobre três dimensões fundamentais acerca de nossa liberdade e de nossa vida Cristã: a conduta, o exemplo e o amor, que estão presentes em nossa liturgia.
Estas três dimensões estão sintetizadas no nosso Evangelho em uma palavra: Mandamento. 
Mas, o que representa o Mandamento nos dias de hoje ? Como alguém pode interferir em nossa trajetória exatamente quando somos impulsionados a lidar com nossos problemas e nossa vida de forma individualizada sem que precisemos responder a nada e a ninguém ? Como pensar em mandamentos quando nos sentimos senhores de tudo e se limite é uma palavra que abolimos de nossas relações ? De fato lidamos com nossos atos sob a frase: "ninguém manda em mim e ninguém tem nada com isso"
Assim, o que pode representar o mandamento quando nossas atitudes cotidianas estão muito mais vinculadas aos nossos desejos individuais, às falsas formas de identidade ? 
Em nosso mundo estamos mais preocupados em demonstrar nosso carro, em demonstrar nossa casa, nossas roupas de marca, os lugares e posições sociais que ocupamos e usufruímos. Todas estas manifestações nos dão um sentido de individualidade, de independência e de autonomia. Porque são postos, objetos posições que pensamos ter conquistado individualmente, sem precisar responder a nada e a ninguém. 
Este tipo de compreensão é extremamente equivocada. A ideia de individualidade e de autonomia, fixada nestes elementos, obscurecem que somos serviçais a alguma coisa. Porque estes elementos que nos consagram no mundo dos homens, em verdade obscurecem que somos escravos de um mundo de consumo e de ostentação, obscurecem que somos assim subordinados e seguimos uma ordem, um mandamento do mundo e que nos escraviza mais e mais no consumo e no individualismo. Um individualismo que faz com que percamos os vínculos familiares, de amizade, para os quais nossa conduta ética e cristã não precisam ser reconhecidas, não precisam coexistir em nossas relações com estes ou quaisquer outros grupos sociais e comunidade. Desprendemos dos laços pessoais para prendermo-nos nas coisas do mundo.
Ao contrário, o mandamento a que o Senhor Deus nos conclama não representa uma dominação, uma imposição, mas um chamado às nossas responsabilidades, uma chamado à conduta cristã que possa ser expressa de forma viva e autêntica, por aquilo que somos de fato: filhos de Deus. 
O Mandamento de Deus não resulta em uma opressão e em uma obrigação, ele resulta de uma liberdade, de uma relação de liberdade em que não oprimimos e não dominamos, porque não nos valemos da condição de flagelo e desesperança de nossos semelhantes. Ao contrário nossa conduta é de misericórdia e capacidade de ser solidário no mundo: "Não oprimas nem maltrates o estrangeiro". De nossa capacidade de reconhecer o limite e a necessidade do outro:  "Se tomares como penhor o manto do teu próximo, deverás devolvê-lo antes do pôr-do-sol".
Nesta mesma perspectiva é que o Mandamento de Deus nos chama a realizarmo-nos no mundo como exemplo. Ser exemplo implica em reconhecer que não podemos demarcar nossa identidade cristã nos objetos, no ter, no aparentar, em diferenciar-nos dos outros. Educar pelo exemplo é a ação cristã concreta que apresentamos aos nossos filhos, aos nossos vizinhos e à nossa comunidade. O chamado de Deus para sermos exemplos, exige de nós a libertação dos mandamentos do mundo, porque requer que nos preocupemos com o resultado de nossas ações. De nossas agressões no trânsito, de nossas arrogâncias no trabalho, nas filas dos supermercados, dos bancos, consolidando nossas relações cotidianas no semblante de Cristo e acolhendo a todos com alegria: "Assim vos tornastes modelo para todos os fiéis". Vendo em nossos atos uma forma de nos libertamos dos objetos que nos tornam escravos no mundo: "As pessoas mesmas contam como vós nos acolhestes e como vos convertestes, abandonando os falsos deuses".  
Com tudo isso nos encontramos na terceira dimensão de seu chamado: o amor. Esta ação suprema é reveladora de nossa cumplicidade com o Senhor Deus. De nosso comprometimento com as pessoas no mundo e não com os objetos que nos afastam e os quais usamos para oprimir e para nos diferenciar dos demais. Esta terceira dimensão revela nossa indulgência, revela nossa capacidade de perdoar e que se trata do mais sublime e fraterno sentimento. Este sentimento nos faz próximos e iguais ao Senhor Deus que, por sua misericórdia, nos faz livres. 
Assim, nesta liberdade se percebe que não se trata de alguém mandar em você, trata-se simplesmente em reconhecer se sua conduta, seu exemplo e seu amor fazem com que você se aproxime ou se distancie de Deus. Trata-se de verificar se sua conduta, seu exemplo e seu amor se vinculam ao mundo ou ao Senhor Jesus Cristo. Ninguém mandar em você pode ser uma ilusão, na medida em que o mundo exerce mandamentos constantes em sua vida, mas que são obscurecidos por uma ideia de desejo individual, de realização pessoal, quando ela é totalmente condicionada e não emerge de seu interior e de sua identidade cristã. Assim, você parece livre, quando em verdade é prisioneiro. Libertar-se significa atender ao chamado do Senhor Deus: "amai a Deus e ao próximo". Este é o sentido do Mandamento para Deus, não é uma ordem, mas um convite para a vida, uma vida plena que se revela em sua conduta fraterna cristã, em seu exemplo de perdão e em sua capacidade de amar !